Aqueles dias no 24 ....

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Acabo de olhar uma noticia num portal online sobre Greystone Park (um manicómio americano encerrado em 2003) e transporto-me em pensamento aquele e a tantos outros locais semelhantes por onde passam os sós dos mais sós - os doentes mntais mais ou menos profundos, mais ou menos presentes. Percebo quer pela noticia, quer pelo conteúdo o enorme desconhecimento que ainda hoje se tem sobre as doenças mentais e os seus pacientes bem como os locais onde são ou devem ser tratados.
 
Uma mistura de preconceito, medo, showoff, opinião sobre o que não se sabe grassa na sociedade. Qualquer pretenso jornalista faz essencialmente um post sobre algo quando o seu core business seria apenas noticia, ou opinião quando especificamente solicitada.
 
Pois bem, infelizmente posso testemunhar um pouco do que já vi sobre o tema e falar dessa enorme instituição chamada Centro Hospitalar Psiquiátrico de Lisboa. È como qualquer instituição -tem coisas boas e tem coisas péssimas.
 
Falemos das péssimas - falo do pavilhão 24 no primeiro andar que de um modo geral tem um corpo clinico e auxiliar que tem e usa métodos retrógrados na relação com doentes e familiares. È um sitio horrível onde cheira permanentemente a tabaco, onde os doentes não têm qualquer ocupação a não ser as refeições e uma sala onde uma televisão berra o dia inteiro num som insuportável, para além da mistura de patologias que não deveria de modo algum acontecer. Vê-se o doente que não contem a urina, aquele que está numa qualquer desintoxicação e é mais presente mentalmente e que forma uma espécie de gangue á sua volta para se proteger e ao mesmo tempo intimidar doentes mais frágeis, vê-se o doente ausente que se arrasta pelo corredor o dia inteiro, os deprimidos, os casos de suicidas e outras tantas questões complicadas.
 
Nesta miscelânea existe um corpo técnico que por ser curto anda sempre atarefado e sem disponibilidade ou paciência para aturar o que quer que seja e não respeitando os horários de visita correndo com as poucas visitas 45 a 50 minutos antes daquilo que está estabelecido, ignorando as dores dos familiares e as suas duvidas bem como se aqueles minutos poderiam fazer a diferença na recuperação do doente, pois o que é importante é dar o jantar aos doentes as 18.15 /18.30 para se despacharem mais cedo para outras tarefas.
 
Se existe um sitio onde a vocação deveria ser palavra de ordem era numa instituição psiquiátrica - não é o caso do pavilhão 24 - 1º andar. È um sitio onde a dor tras apenas mais dor e sem solução á vista, pois uma queixa potencia um desleixo ou mau trato ao doente, que coitado por ter uma patologia mental ninguém acreditará no que disser.
 
Há uma falta de respeito constante pela doença mental na sociedade em geral e temos o catálogo de maluquinho para tudo o que faz parte daquele foro. Não pensei nunca que ela existisse dentro do Julio de Matos - pois existe e é brutal e inaceitável.
 
Infelizmente tive um familiar internado naquela unidade durante algum tempo e já não bastando a doença, afirmo que aquele foi dos sitios mais horriveis que visitei algum dia e que espero nunca mais ter de visitar - falta acima de tudo dignidade que é algo consagrado basicamente em tudo o que é tratado que envolva a pessoa humana.

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