Dos mais sós dos sós 



A expressão dos abandonados da vida não consegue ser reproduzida

 Cada olhar quebrado e cansado com o peso do mundo aos ombros, inexpressivos, sós, numa dolorosa solidão esquecida por todos, frases que jorram sem sentido ou silêncios que se perpetuam sem nada para dizer com a alma em ânsias de algo expressar.

A cor macilenta da pele, os cabelos em desalinho, as vozes turvas, as discussões impróprias, as horas marcadas pela rotina da refeição e de um vazio que embate no peito e deixa prostrada qualquer alma que por ali se cruze.

Pelo respeito, pelo amor em falta, pelo abandono de família e amigos, tantos são os que pairam nos corredores desolados ...

Não fazemos a mínima noção do que é viver numa instituição psiquiátrica. Também aí a sorte pode ditar lei pelo facto de ter ou não uma equipe de profissionais á altura.

Vivemos tanto na nossa concha que nos esquecemos dos sós dos mais sós - aqueles que nem sabem que existem, aqueles doentes que estão internados ou institucionalizados num hospital psiquiátrico.

Não calha só aos outros. Vê se dos vintes aos oitentas, alguns que ali desembocaram pelo uso e abuso de drogas ou álcool, aqueles que por um desequilíbrio químico num repente inexistiram, aqueles até que tem uma vida normal e num tropeço desligam, os doentes de alzheimer, os dementes , todos eles filhos, país ou até avós de alguém .

Sei da dureza do espaço na primeira pessoa . Não desejo a nenhum de vós que sequer tenha a experiência de ali apoiarem os seus.

Para aqueles que acreditam em algo transcendente, peço que orem pelos doentes, para os que não crêem que façam um pouco de silêncio e reflitam sobre a sua existência .

A todos um obrigado pela paciência de dispensarem uns minutos para lerem este desabafo.
C

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