O Trabalho e o direito ao Descanso
Hoje remeto este assunto para o Expresso Curto trazido por Filipe Santos Costa que traz uma interessante visão sobre o tema baseado num livro de Arianna Huffington :
Ah, e convém resistir à tentação de estar sempre ligado - se não é o email do trabalho é a televisão, ou o Facebook, ou o Twitter, ou... Não só esta tentação cria um estado de ansiedade permanente, inimigo do sono, como os ecrãs dos telemóveis são especialmente eficazes a suprimir a vontade de dormir. A explicação é científica. "A luz suprime a produção de melatonina, a qual nos dá o sinal para dormirmos. (...) A luz azul, o tipo emitido pelos nossos omnipresentes dispositivos eletrónicos, é especialmente boa a suprimir a melatonina - o que a torna especialmente nociva para o nosso sono. Olhar para um dispositivo que irradia luz azul antes de ir para a cama pode servir como um estímulo de alerta que irá frustrar a capacidade do seu corpo para adormecer. (...) As pessoas expõem os seus olhos a este fluxo de fotões vindos destes objetos que dizem basicamente ao cérebro: 'fica acordado, ainda não é hora de ires dormir'. E depois são 22h00, são 23h00, é meia-noite, e você está a ver emails, a respoder a mensagens (...), à 1h00 vai ver mais coisas porque está acordado, portanto, porque não ver?, depois vai para a cama à 1h00, acorda às 6h00, porque são horas de ir para o trabalho, e isso dá cinco horas de sono. Soa-lhe familiar?"
À noite, durma sobre este assunto."
Obrigado por me terem trazido este miminho matinal :)
"Já bebeu o
seu expresso para pôr essa máquina a funcionar? E não acha estranho, ou pelo
menos incómodo, que a máquina dependa da ingestão de estimulantes para arrancar
de manhã? Sono e cafeína...
pois... é "um romance complicado". E é ainda mais
complicado se tivermos em conta que cada
vez mais gente depende de comprimidos para dormir e de estimulantes para
acordar. "O círculo perfeito de esgotamento mercantilizado",
escreve Arianna Huffington. Quando algo tão natural e vital como o sono se
torna uma indústria, algo está errado.
Breve
enquadramento histórico: Arianna
Huffington, empreendedora e fundadora de um dos mais importantes novos projetos
de media norte-americanos - o Huffington Post -, teve há dez anos um colapso
por exaustão provocada pela privação de sono e, desde então,
tornou-se uma especialista na matéria e ativista contra a cultura atual, que
admira quem dorme pouco e premeia a ideia tonta de que dormir é tempo perdido.
Vivemos,
escreve Arianna Huffington, numa "ilusão
coletiva de que o excesso de trabalho e o esgotamento são o preço que temos de
pagar para termos sucesso. (...) Sentindo que o dia não tem horas suficientes,
procuramos onde cortar. E o sono é um alvo fácil. Na verdade, perante esta
definição implacável do sucesso, o sono não tem qualquer hipótese".
A tese da autora é que precisamos de virar a equação. "Para prosperarmos de facto, temos
de começar pelo sono."
Pense nisto:
conhece de certeza pessoas que se gabam de dormir pouco - pode até ser o seu
caso e é, todos sabemos, o caso de Marcelo Rebelo de Sousa. Pode ser o caso do
seu chefe, do seu colega, do CEO da sua empresa. Ninguém os censura por isso,
certo? Bill Clinton também
era assim - dormia pouco e fazia gala disso. Até ao dia em que teve uma
epifania: "Todos os erros importantes que fiz na minha vida foram feitos
porque estava demasiado cansado." A autora de "A Revolução do Sono"
tem uma tese radical: apesar desta glamourização testeronizada da ideia de
dormir pouco, confiar em
líderes (políticos, empresariais, seja de que setor for...) que se gabam disso
é como confiar em líderes que se gabam de ser alcoólicos ou de tomarem drogas.
Os efeitos são comparáveis, diz Huffington: a privação de sono,
tal como o alcool ou as drogas, tolda o discernimento e leva a muitas decisões
erradas (sem esquecer que todos provocam grande número de mortes, seja na
estrada, seja no local de trabalho, sobretudo em ambiente industrial).
Mas a
questão não é só a errada boa imagem da ideia de dormir pouco. A questão é
também a pressão cada vez
maior dos empregadores para que os funcionários estejam sempre disponíveis, e
os avanços tecnológicos que fizeram com que muita gente passe a levar o emprego
para casa, no smartphone. O "direito a desligar" vai
ser um dos debates mais importantes dos próximos tempos do ponto de vista dos
direitos laborais. Dormir voltará a ser uma reivindicação básica, como quando,
depois da revolução industrial, os trabalhadores reivindicavam as 40 horas
semanais com o slogan "oito horas para trabalhar, oito horas para
descansar, oito horas para o que quisermos". A tese de Arianna Huffington
é que a mudança de atitude passa pela consciência de cada um sobre a
importância do sono, vai implicar provavelmente intervenções legislativas, mas
também obrigará os empregadores a terem consciência de que cortar no sono dos
funcionários tem mais custos que benefícios. O caminho, diz, é pela
flexibilidade, incluindo a possibilidade dos funcionários trabalharem mais a
partir de casa para evitarem as longas horas de deslocação nas grandes cidades.
Mas não só. Há outras medidas "revolucionárias".
A Volkswagen
passou a desligar os servidores
de email da empresa trinta minutos depois de terminada a jornada de trabalho;
outras empresas alemãs, como a BMW e a Deutsche Telekom, têm políticas
semelhantes. O Huffington Post foi das primeiras empresas de Nova-Iorque a
criar "salas de sesta"
para os trabalhadores fazerem pausas durante a jornada de
trabalho e a nova empresa de Arianna (Thrive) tem como política destruir os
emails que os funcionários recebem durante as férias e fins-de-semana - quem
envia a mensagem recebe um aviso de que "deve voltar a enviá-la a partir
do dia X".
Ah, e convém resistir à tentação de estar sempre ligado - se não é o email do trabalho é a televisão, ou o Facebook, ou o Twitter, ou... Não só esta tentação cria um estado de ansiedade permanente, inimigo do sono, como os ecrãs dos telemóveis são especialmente eficazes a suprimir a vontade de dormir. A explicação é científica. "A luz suprime a produção de melatonina, a qual nos dá o sinal para dormirmos. (...) A luz azul, o tipo emitido pelos nossos omnipresentes dispositivos eletrónicos, é especialmente boa a suprimir a melatonina - o que a torna especialmente nociva para o nosso sono. Olhar para um dispositivo que irradia luz azul antes de ir para a cama pode servir como um estímulo de alerta que irá frustrar a capacidade do seu corpo para adormecer. (...) As pessoas expõem os seus olhos a este fluxo de fotões vindos destes objetos que dizem basicamente ao cérebro: 'fica acordado, ainda não é hora de ires dormir'. E depois são 22h00, são 23h00, é meia-noite, e você está a ver emails, a respoder a mensagens (...), à 1h00 vai ver mais coisas porque está acordado, portanto, porque não ver?, depois vai para a cama à 1h00, acorda às 6h00, porque são horas de ir para o trabalho, e isso dá cinco horas de sono. Soa-lhe familiar?"
À noite, durma sobre este assunto."
Obrigado por me terem trazido este miminho matinal :)
Comentários
Enviar um comentário