Saudades mais que muitas...porque não?
Querida C.
Partiste há tantos anos para aquela morada de que não se regressa no plano físico...
A noticia caiu em mim como uma bomba da qual ainda hoje quase 20 anos depois ainda recolho estilhaços. Saído há pouco da adolescência, tinha no meu inconsciente a saudade da tua ausência tão difícil de vencer pela distancia a que decidiste recolher-te nos teus últimos anos de vida. Seria melhor estares só do que vivenciares situações dolorosas a que foste sujeita pelos teus...por aqueles que criaste durante tantos anos só, sem apoio de ninguém a não ser esse teu Espírito empreendedor de fura vidas que tinhas, e que com o tempo e pelo desgaste estava tão amortecido..
Foi (ainda é...) dura a tua ausência...ver-te amortalhada, saber que faleceste só e em tua casa sem ninguém para te acudir naquela noite...foi duro velar-te...mais duro ainda transportar o teu caixão rumo á tua ultima morada física naquele dia debaixo de um imenso temporal que parecia a tradução dos céus em revolta pela tua partida... lembro-me não ter vertido uma lágrima nesse dia porque o céu o fazia por mim e ter chegado a casa e ter passado horas lavado em lágrimas porque finalmente me caía a ficha.
Jamais terei o teu olhar doce, o calor da tua mão, as tuas palavras pedindo me paciência pelos maus tratos dos meus pais e pela ausência de apoio de todos os familiares que escolheram a ausência como forma de resposta a tudo isso... não terei mais o prazer de te ouvir contar histórias á lareira, comer dos teus cozinhados, de sentir a tua presença que tanta falta me faz... Coloco-me pois numa posição tão egoísta como esta...porra a tua ausência ainda me doí, e á medida que escrevo estas palavras, as lágrimas assomam, mas faço força para que não caiam porque uma das coisas que me ensinaste foi a ser forte, a ter coragem perante a adversidade e a lutar todos os dias para não cair ...
Sei que durante muitos anos me arrastei, mas raios....nos últimos anos tenho ido buscar forças não sei bem onde...talvez ao teu exemplo..foste uma sobrevivente e eu vejo-me também um pouco nesse plano. Ias gostar de conhecer a L., outra sobrevivente da vida...e se ela tem sido madrasta..
Uma das coisas que me ensinaste a apreciar na tua aldeia foi o silencio..cada vez que la passo...inspiro-o como se de um medicamento vital se compusesse e quero sentir cada recanto porque ali estiveste...nas coisas mais simples, nos lugares a que foste - devem ser as raízes de que falam e que estão sempre presentes na nossa vida. Gostava que não tivesses ido tão cedo...ainda hoje me fazes muita falta - foste o único laço familiar (de sangue) amigo que tive na minha vida e isso foi marcante demais. Dizem que as famílias são assim...não sei..não o experimentei a não ser contigo. Já disse que continuo a sentir a tua ausência? Inúmeras vezes eu sei...
Sou assim...um saudosista..sinto falta de quem me fez bem como tu. O meu único conforto, o meu porto de abrigo, a minha querida Avó C. que ainda hoje tanto amo...
Teu...C.
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