Dia de uma Mãe (um dia será ?....)
Podia e devia ser um dia de comemoração. No caso é mais um dia no calendário. Cedo percebi que me encontrava num cenário errado e bizarro em que via o que não devia em casa e era vitima daquilo que apregoam os escaparates de hoje de violência doméstica do mais agressivo e descarado possível - numa altura em que era normal filhos e mães serem espancados porque sim. vizinhos, família, autoridades e todos assobiavam para o lado, contudo mãe, hoje é a ti que me dirijo, num tom magoado e quiçá irado por tudo aquilo que não ousaste.
Em tenra idade te vi e levar "pancada de meia noite" como o povo diz porque ele chegava a casa e alcoolizado ou não, porque o dia lhe tinha corrido mal, porque as prostitutas que paravam na Quentinha no Cacém lhe davam calores e em casa não estava o que queria, porque na escola eu não me tinha sabido defender, ou porque não sabia atar os sapatos, porque corria e caia e aparecia com a roupa e joelhos esfolados, ou até porque fazia aneurese e nunca ninguém quis saber ou ajudar.
Falo te hoje neste dia que poderia ser tão especial e significativo para ambos, mas não...tu foste cúmplice de uma grave situação que perdura desde 1972 e que manténs por submissão, estupidez, por pena, porque talvez nem saibas de ti mesma nesta existência e escolheste um caminho de martírio que me povoa os pensamentos, corrói a mente e perdura na minha alma. Sim apesar de tudo tenho saudades tuas, mas não te consigo olhar nos olhos e dizer isso porque me abandonaste tantas vezes em 42 anos da minha existência que nem sei bem o que sinto por ti.
Sou maior é verdade, mas interiormente nunca consegui crescer como deveria ser e fruto disso a psicologia e psiquiatria é um tema que me é caro há demasiados anos e como consequência, a medicação para me ajudar nos dias é uma constante e quanto a isso nunca te perdoarei, pois nunca me protegeste, nunca estiveste lá, nunca foste a Mãe....eras e foste uma mulher (serás ainda hoje), teimosamente agarrada a um agressor, louco, bêbado, doente psiquiátrico, mau e completamente incoerente.
Nunca me soube adaptar a isso e por isso em dada altura (e ainda foram 6 anos de cumplicidade na maioridade), fui á minha vida fugindo de uma realidade que me traumatizou, traumatizava e traumatiza. Creio até que a minha verdadeira zanga é comigo mesmo porque me penalizo por ter partido ao meu encontro. 20 anos volvidos (quase) ainda não me encontrei e sinto-me muitas vezes perdido.
Mãe, nunca estiveste, não estás nem sei se algum dia estarás, porque tentaste sempre remediar as coisas com choro e sem ação e por isso um dia nasceu uma pirralha que me cortou boa parte da adolescência e que infernizou ainda mais os meus dias, mas isso será tema para outro dia. Hoje o centro és tu (serás?) e de forma estranha vejo me engrandecido por ter uma família que tu não quiseste conhecer, nem conviver em nome de uma paz podre que cessará um dia por sobre uma caixa de madeira que desce á terra ou é queimada nas chamas de um crematório.
Pode ser que até alguem te dê a ler isto, quem sabe a tua querida e estimada nora (minha ex-mulher - graças a Deus) que me roubou anos de vida, que tentou dar cabo da minha vida e que me roubou vários bens de minha pertença na casa do Baleal (outras contas a ajustar um dia....).
Estás demasiadas vezes no meu pensamento e isso não deveria sequer acontecer "mãe"...
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