A propósito dos divórcios que nunca chegam a ser

A propósito deste magnifico post decidi refletir acerca de um divórcio que nunca foi e que me trouxe um lamentável lastro de tristeza, mal estar, uma infância terrível com laivos de masoquismo pela adolescência e que perpetua na minha memória a possibilidade de algo que nunca foi.

Cedo percebi que vivia numa seio familiar de uma violência psicológica e física extrema. Lá em casa qualquer coisa era motivo para discussão, desconforto, lágrimas, pancadaria em que o agressor sempre foi o meu pai, que como ex combatente da guerra colonial misturado com álcool e de quando em vez comprimidos tornava tudo num ambiente deveras explosivo.

Cresci a ver a minha mãe a ser espancada e eu próprio a ser saco de pancada por tudo e por nada. Naturalmente que em cada episódio desta saga, a vergonha se acumulava em mim pelo que se passava lá em casa com a vizinhança a olhar-nos de lado e a nada fazer para ajudar, e o resto da Idanha a saber +/- o que se passava evitava contacto... dos amigos da escola e da professora Eugénia obtia de modo geral alguma solidariedade mas como se considerava na altura normal um filho levar porrada do pai ou até a mãe passar por isso....tudo assobiava para o lado.

Foi difícil crescer...a pulso...a pontapé...muitas vezes com negras pelo corpo todo e que se mantêm pela alma fora.

Tinha  sido melhor para todos que a minha mãe tivesse tido os "tomates" suficientes para bater com a porta e ter saído de casa comigo pela mão a fim de nos proteger a ambos...não aconteceu...optou pela cobardia e comigo com 13 anos nasceu uma criança lá em casa...complicou tudo, sobrou ainda mais para mim e a mágoa cresceu tempo a fora.

Hoje e aos 42 anos olho para trás e vejo tudo nublado - uma amalgama confusa de negrume e terror que teima de quando em vez assolar-me. O contacto com essa parte da família não existe até porque para me proteger tive que optar por essa via...o engraçado e irónico de tudo isto é que as memórias perduram e não são doces e após um divórcio que eu concretizei na minha vida me vi cerceado pela minha ex numa jogada de manipulação extraordinária a ser pai...uma maravilha portanto. Esta parte não doí quase nada até porque o puto que tirei de um asilo e de quem eu era o maior herói se tornou parte de uma história de horror demasiado cabeluda tomando um partido que não o levará a bom caminho...azar....o dele :) - a minha porta de casa fechou-se definitivamente para ele e a única coisa que lamento é que tenha ficado com o meu apelido custando-me mensalmente uma quantia.

Mas...leiam aquele post e se estiverem a meio de algo relacional que não vos diga grande coisa...talvez ajude.


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